terça-feira, 4 de maio de 2010

As Marias que não são santas.

Maria era uma criança normal, como todas as crianças de sua idade, ela assista TV e ia à escola. E como toda criança de sua idade, ela também era livre de problemas e responsabilidades. Todos os dias tudo o que ela queria era chegar da escola o mais cedo possível, para poder ir brincar de boneca. Mas com o passar dos anos, Maria foi crescendo, e dentro dela o desejo de fugir crescia a cada dia. Ela começou a sentir um grande vazio e a necessidade de fugir da vida pacata e monótona que levava. Ao contrário do que sua mãe sonhara um dia, Maria não sonhava em casar, ter filhos e uma família pela qual se deve lutar até o ultimo instante. Maria queria mais, e embora tudo indicasse que ela não conseguiria, ela partiu, e foi em direção à cidade grande.
Ao chegar ao seu destino, ela se deparou com a imensidão daquela cidade, que comparada com o tamanho de sua cidade natal, era como um tigre grande e feroz ao lado de um gatinho.
Como toda adolescente, Maria havia agido por impulso, e só depois que havia chegado a seu destino, percebeu que, além de estar sozinha e perdida, também estava sem dinheiro suficiente para pagar um simples hotel meia estrela. Então Maria começou a vagar. Andou, andou e andou, ficou sem rumo. E chegou a encontrar conforto nas palavras de sua mãe que diziam: ‘’Tu tens que casar ter uns cinco filhos, e se contentar com isso’’.
Maria se via na beira de um abismo, pois ela saíra de sua cidade, justamente em busca de outro futuro, um futuro em que a felicidade não era planejada por sua mãe. Ela acreditava em algo mais, acreditava que o fato de ser mulher não a obrigava a seguir o mesmo padrão de vida que sua mãe suas tias, amigas e vizinhas levavam.
Maria caminha próxima à pista, se sente exausta, decidi se sentar. Senta-se na calçada, e pensa em tudo que vivera até ali. Tenta achar sentido na sua busca pela felicidade inalcançável. Um carro pára à frente de Maria, dentro dele há um homem moreno e bonito, que pergunta se ela esta livre ou esperando alguém. Maria se vê em um conflito, pois ela sabe que o tal homem pensa que ela é uma prostituta, e que cabe apenas a ela decidir entrar ou não no carro. Levando em consideração as circunstancias, ela sabe que esta sem dinheiro e sem lugar para passar a noite. Então Maria pensa em tudo o que vivera. Lembra das noites vazias de sua cidade; do seu pai jogando baralho com os amigos em frente a sua casa; de sua mãe que passava as tardes costurando, e ao chegar à noite, ia ver sua novela preferida. Maria se lembra do cheiro do bolo de laranja que sua mãe fazia todos os sábados. Lembra do gosto do beijo do seu primeiro e único namorado. Lembra das conversas que tivera com as amigas e das coisas que elas sempre lhe falavam, que queriam casar com o rapaz mais lindo da cidade, ter dois filhos e uma casinha onde viveriam ‘’felizes para sempre’’. Maria se lembra do ódio que sentira, por saber que se ela não fugisse dali o mais rápido possível, ela teria que seguir esse mesmo padrão, casar, ter filhos, se tornar costureira, e fazer bolo aos sábados. Maria não queria nada disso, queria qualquer oportunidade que a fizesse ter um futuro diferente.
Depois de viajar por toda sua cidade natal, Maria volta à vida real, pois ela percebe que o homem lhe fizera a pergunta outra vez, se ela estava ou não livre... Maria responde que esta livre, e entra no carro em uma viajem quase sem volta.
Muitas Marias saem de suas cidades pacatas, levando apenas as lembranças de uma família infeliz. Tentam fugir do conformismo que suas mães, tias, amigas sentem; e buscam além das fronteiras seguras: liberdade; aventura; amor; dinheiro. Sendo que o que elas encontram, na maioria das vezes, são pessoas vulneráveis, que trocam dinheiro por algumas horas de felicidade.
A entrada na prostituição dá-se na sequência de um acontecimento de vida que é marcante e que provoca uma mudança na trajetória de muitas Marias. A maioria das Marias se prostituem porque acham que não vão conseguir um emprego, e se vêem em dificuldade financeira, ou seja, muitas vezes começam por necessidade, depois continuam por dinheiro.
Uma pesquisa feita pela CBIA (Centro Brasileiro para infância e adolescência)ressalta que oito em cada dez garotas Brasileiras se prostituem contra a vontade. Elas trabalham de três a quatro dias por semana e tem em média quatro parceiros por dia. Com saúde debilitada e sem educação básica, essas meninas tornam-se mães precoces que não tem condições de educar seus filhos.
A prostituição é mais freqüente entre as mulheres, pois os homens são os que estão mais dispostos a pagar por sexo.
Muitas mulheres se prostituem pelo fato de não terem escolaridade para conseguirem um emprego que pague bem. Pois muitas têm filhos e necessitam de um salário significativo para educá-los.
A principal motivação para tantas mulheres se prostituirem é o dinheiro, sendo que no espaço profissional são os homens que ganham mais. Se houvesse igualdade de gênero, muitas mulheres não se prostituiriam. Tudo isso sem levar em consideração o preconceito que tais mulheres sofrem. As mulheres que se prostituem são consideradas mulheres do mais baixo nível, já os homens que atuam em tal área, apenas pelo fato de serem minoria, não são tão discriminados. O mais frustrante é saber que, ainda há aqueles que dizem que a mulher é o sexo frágil. Mulheres que saem de suas kitchenettes ou de hotéis baratos, e vão pra noite expostas e dispostas a tudo, sinceramente não podem ser chamadas de sexo frágil, pois tais mulheres, além do que já foi dito, ainda devem ser boas atrizes, para interpretar um dos papéis mais discriminados pela sociedade.
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Agora o problema de Maria é outro, apesar de já ter tido relações sexuais, era a primeira vez que ela saía com um estranho, e por mais bonito que ele fosse não fazia com que sua primeira experiência como prostituta, se tornasse mais casual. Maria não tem a menor idéia do que fazer; ela apenas tem a absoluta certeza de que fará o que for preciso para alcançar o seu objetivo, que supostamente é não voltar a ser uma garota provinciana vitima do conformismo. Maria não se sente uma vitima do destino, pois ela sabia dos riscos que correria por ter viajado sozinha para um lugar totalmente desconhecido. Ela sabia que precisava ser forte, e que devia interpretar a mulher fatal ou a mocinha ingênua, isso dependeria do pedido do cliente.
Maria nunca havia pensado em como agia uma prostituta, e agora a sua escolha de fugir de sua cidadezinha, de torna-se esposa costureira, mãe de uns cinco filhos e de fazer bolo aos sábados, a levara direto a um mundo completamente desconhecido. Mas que agora, seria o seu ponto de partida para a vida diferente que ela tanto sonhara.

Um comentário:

  1. Exitem ainda as 'Marias de luxo', as prostitutas que atendem clientes vips e que geralmente são de classe média. São as aventureiras, buscando na prostituição, evidentemete além de dinheiro, emoções e algo que preencha o tédio...

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